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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
08
mar 2017
quarta-feira 21h00 Concertos Especiais
Concerto Especial: Dia Internacional da Mulher


Coro da Osesp
Valentina Peleggi regente
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Camila Titinger soprano
Luisa Francesconi mezzo soprano
Paulo Mandarino tenor
Leonardo Neiva barítono
Coral Lírico Paulista
Coro Acadêmico da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações

Este é um concerto especial em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, onde Valentina Peleggi rege o Coro da Osesp  cantando a capela obras de três compositoras de diferentes períodos: Maddalena Casulana (Renascimento), Roxanna Panufnik (Contemporâneo) e Lili Boulanger (Moderno). Logo após, Marin Alsop rege a "Sinfonia nº 9" de Beethoven, com o Coro da Osesp e convidados. 

Maddalena CASULANA
Morir non può il mio cuore
Roxanna PANUFNIK
Kyrie After Byrd
Lili BOULANGER
Hymme au Soleil
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 9 em Ré Menor, Op. 125 – Coral
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 100,00
  QUARTA-FEIRA 08/MAR/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]

Sinfonia nº 9 em Ré Menor, Op.125 — Coral

 

Beethoven divide a história da música em antes e depois. Mais do que acelerar a transição do classicismo de Haydn e Mozart para o romantismo de Liszt e Wagner, Beethoven antecipa irreversivelmente a própria modernidade. De certo modo, algumas de suas técnicas composicionais se assemelham muito mais às do cinema do século XX — com cortes abruptos, fusões e sobreposições de acontecimentos musicais, recuperação de memórias tênues, zooms e tomadas panorâmicas — do que às da música de sua época. Com sua “tesoura poética” em punho — como disse uma vez o compositor e professor brasileiro Willy Corrêa de Oliveira —, Beethoven concatena as sequências e constrói sua narrativa musical como quem edita uma filmagem.


É também nesse sentido que sua Sinfonia nº 9 pode soar ainda tão atual neste início de século XXI no Brasil. Ouvi-la é estar sujeito a surpresas, a grandes contrastes de sensações, a sacrifícios, êxtases e riscos, a caminhos sem volta. Sua sobrevida e seu grande sucesso, dentro e fora das temporadas de concerto, podem ser em parte explicados pela avassaladora força de seu movimento final, em que a Ode à Alegria (1786) de Friedrich Schiller, musicada, faz o próprio gênero sinfonia desdobrar-se sobre si mesmo, transbordando para além do reino da música pura instrumental.


Beethoven levou doze anos para compor suas oito primeiras sinfonias (de 1800 a 1812) e, de certa forma, mais doze para a composição da derradeira, estreada em 1824 (há esboços que datam de 1815). Mas a escrita, longe de fundamentar-se apenas no artesanato de motivos unificadores (como o das quatro primeiras notas da Quinta Sinfonia), deixa vazios para o episódico, abre espaço para “pontos sem nó”, numa utópica tentativa de síntese de toda a sua obra. Na Nona — a sinfonia em Ré Menor que deságua na Ode à Alegria (em Ré Maior) —, Beethoven recupera e intensifica a mesma estratégia bem-sucedida da sinfonia em Dó Menor (a Quinta), além de lançar mão de outros elementos reconhecíveis de diversas obras suas. Como resultado, tem-se um agregado de possibilidades, ora singelamente sugeridas, ora contundentemente manifestadas, que podem ser ainda mais bem entendidas se colocadas lado a lado às nuanças de sua peça antípoda, a Missa Solemnis, também de 1824. Se por um lado, na missa, Beethoven não se restringe ao universo puramente sacro, mas abre-o para “sinfonismos” ocasionais, por outro, no final da Nona, há momentos em que a sinfonia se transmuta em passagens essencialmente religiosas, como que a se elevar para “além do firmamento”, como sugere o poema de Schiller.

 

Entre muitas soluções criativas particulares à Nona — que passariam a ser referenciais para os compositores posteriores —, des taca-se o deslocamento do movimento lento, o “Adagio”, que costumeiramente ocupava a posição de segundo movimento, para a posição de terceiro. Como é comum em Beethoven, aqui o conteúdo a ser expresso determina a forma que o carrega; neste caso, o ajuste foi necessário para provocar uma maior introspecção, uma placidez meditativa, no intuito de gerar um estado que permitisse e ao mesmo tempo se contrapusesse à apoteose que estaria por vir no movimento final.
Após a introdução instrumental e seguidas variações do tema, uma inesperada intervenção da voz humana (barítono), em meio ao tutti orquestral, apresenta-se como o ponto crucial do finale:


“Oh, amigos, não esses tons” (palavras escritas por Beethoven). Lewis Lockwood, pesquisador de Harvard, destaca o fato de o compositor se dirigir diretamente à humanidade num simbolismo que abraça “não somente os milhões de pessoas, mas uma crença num mundo onde o destino delas importa tanto quanto o de cada indivíduo”; é a celebração de um mundo maior, da “fraternidade humana como defesa contra a escuridão”.

 

SERGIO MOLINA é compositor, doutor em música pela USP, coordenador da pós-graduação em canção popular na Fasm (SP) e professor de composição no ICG/UEPA de Belém.

 

 

Leia sobre a Nona Sinfonia no ensaio "Memória e Antecipação: A Nona Sinfonia", de Samuel Titan Jr. aqui.