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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
07
out 2016
sexta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Alsop e Lewis


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Paul Lewis piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Ludwig van BEETHOVEN
Concerto nº 2 Para Piano em Si Bemol Maior, Op.19
Concerto nº 3 Para Piano em Dó Menor, Op.37
INGRESSOS
  R$ 10,00
  SEXTA-FEIRA 07/OUT/2016 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Leia o ensaio Os Concertos de Piano de Beethoven, de Jean-Paul Montagnier

Notas de Programa

ENTREVISTA - PAUL LEWIS

 

 

Ao lado de Schubert, Beethoven forma o núcleo do seu repertório. O que há na música desse compositor que a torna tão importante para você?

 

Beethoven é o universo em forma de música! Há tantos elementos da experiência humana em suas peças que seria quase impossível não estabelecer relações entre o que ele tem a dizer e nossa própria vivência. E sua capacidade de transmitir essas experiências com uma clareza expressiva única é simplesmente notável. Enquanto Schubert praticamente não sente necessidade de encontrar respostas, Beethoven quase sempre encontra. Imagino que isso nos diga algo sobre o caráter dos dois compositores — Schubert representa a essência da vulnerabilidade humana; Beethoven busca ser, de alguma forma, sobre-humano.

 

Vamos falar sobre o ciclo Beethoven. Você fez uma gravação dos Concertos há cinco anos. O que o levou a revisitar esse repertório? Existem planos para regravar uma nova série completa?

 

Não há planos para regravar os concertos no momento, ainda que revisitar o ciclo todo seja algo que espero fazer pelo resto da vida. É impossível que a abordagem a essas grandes obras não evolua com o tempo, e tenho certeza de que há muitos aspectos diferentes no meu desempenho hoje, comparado ao de cinco anos atrás. Por isso acho difícil escutar minhas próprias gravações — só fico prestando atenção no que eu faria diferente!

 

Tocar os cinco concertos em apenas três dias é um desafio e tanto. Como você se prepara técnica e emocionalmente para transitar de uma peça a outra?

 

É mesmo um desafio, mas não impossível. Em termos de preparação, não difere de tocar um recital composto por várias peças distintas. A maneira com que os concertos foram programados é ideal tanto para o músico quanto para a plateia. Os Concertos nos. 2 e 3 são os mais contrastantes, o nº 1 e o nº 4 têm mais pontos em comum, e o nº 5 precisa de um espaço próprio pelo seu caráter heroico.

 

Entrevista a RICARDO TEPERMAN. Tradução de Jayme Costa Pinto.


 

 

Até a composição da Quinta Sinfonia, de Beethoven, os temas das sinfonias tinham sempre a forma de melodias mais ou menos extensas. Haydn e Mozart concebiam seus temas como trechos melódicos de reconhecimento relativamente fácil, mesmo que tivessem sido construídos a partir de pequenos fragmentos que, ao longo da obra, pudessem servir ao desenvolvimento e à expansão da forma.

 

Beethoven revolucionou esse princípio ao condensar o primeiro tema da Quinta Sinfonia num pequeno motivo de quatro notas. Esse motivo inicial é provavelmente a ideia musical mais conhecida de toda a história da música. Mas, a despeito das anedotas que já se contaram a seu respeito, não há nenhum propósito em vincular o “pam-pam-pam-paaaaaam” a significados extramusicais que teriam passado pela mente do compositor quando ao concebê-lo. A beleza dessa poderosa interjeição musical cresce na proporção direta de sua ambiguidade. Seu pathos expressivo, exacerbado pela veemência da orquestração em uníssono, nos toca poderosamente de modo indizível.

 

Foi um admirável “ovo de Colombo” Beethoven ter percebido que esse motivo conciso, submetido a sucessivas transformações, se prestaria à construção de um discurso musical inteiramente baseado na sua repetição obsessiva. É plausível dizer que tudo nessa Sinfonia, em última instância, pode ser reduzido ao motivo gerador. Realiza-se aqui, em sua plenitude, o ideal de Haydn da organicidade do discurso musical, que preconizava que os elementos de uma música deviam ser gerados a partir de uma célula-mãe.

 

Aliás, não só o primeiro movimento é construído a partir do motivo inicial, mas, a rigor, todos os quatro. Em cada um deles, novas derivações, ainda que aparentemente remotas, conectam os materiais utilizados ao motivo gerador. No segundo movimento, dois temas líricos de caráter gentil e nobre são expostos e trabalhados, alternadamente, de acordo com o princípio do tema com variações. O ritmo ternário contrasta, todavia, com o ritmo binário do primeiro movimento, enquanto a retórica retoma ocasionalmente o sentido patético do tema original.

 

No terceiro movimento, em forma de scherzo, a derivação do motivo inicial é facilmente reconhecível. O tema, reduzido a uma pulsação que insiste numa única nota enfaticamente repetida pelas trompas, expõe uma versão ternária simplificada do ritmo original. Essa mesma derivação será utilizada no movimento final, para construir o clímax expressivo da obra.

 

Embora o impacto inicial do primeiro movimento fique indelevelmente fixado na nossa memória, o ponto culminante da obra está na última parte. Dos quatro movimentos, é o mais longo, o mais elaborado e o que apresenta as sonoridades mais poderosas.

 

Schumann foi o primeiro a reconhecer na Quinta de Beethoven a influência da música francesa. Em Paris, no período posterior à Revolução Francesa, as manifestações musicais em praça pública, com forte conotação política, criaram um novo estilo musical, caracterizado pelas marchas para fanfarras de sopros e percussão. Esse novo estilo ganhou forma na ópera francesa pós-revolucionária, chamada de ópera de resgate, que retrata a jornada do herói romântico das trevas para a luz. Esse modelo narrativo, de drama que acaba em happy ending, foi inicialmente usado nas obras de Méhul e Cherubini, que, por sua vez, tiveram forte influência sobre Beethoven.

 

A Quinta Sinfonia, assim como a Terceira, é baseada nesse paradigma. O primeiro movimento, em Dó Menor, expressa os sentimentos de conflito e luta, enquanto os seguintes progridem gradativamente para sua superação, culminando na exultação e na vitória do movimento final em Dó Maior. Ressalte-se, portanto, o sentido essencialmente heroico da Quinta Sinfonia, que corresponde a um ideal romântico, em contraste com o sentido preferencialmente trágico da arte clássica.

 

Os primeiros esboços para a Quinta foram feitos em 1804, porém a maior parte de sua composição só foi completada nos anos de 1807 e 1808. Dedicada ao conde Razumovsky e ao príncipe Lobkowitz, dois dos principais mecenas de Beethoven na fase intermediária de sua carreira, a obra aparece como a culminação de um período de extraordinária produtividade. [2005]

 

RODOLFO COELHO DE SOUZA é compositor e professor do Departamento de Música na Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto.