Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
8 9101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
09
dez 2016
sexta-feira 21h00 Araucária
Osesp: Alsop rege Bernstein


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente


Programação
Sujeita a
Alterações
Leonard BERNSTEIN
Shivaree
Candide: Abertura
1600 Pennsylvania Avenue - Suíte para Orquestra
Slava! Uma Abertura Política
CBS Music [Estreia Mundial]
Wonderful Town: Abertura
On the Town: Times Square - 1944
Autores diversos
Bernstein Birthday Bouquet
Leonard BERNSTEIN
Danças Sinfônicas de West Side Story: Excertos
INGRESSOS
  Entre R$ 42,00 e R$ 194,00
  SEXTA-FEIRA 09/DEZ/2016 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

 

Protagonista de uma trajetória eclética — foi regente, compositor, professor e pianista —, Leonard Bernstein completaria seu centenário em 2018. Nascido em Lawrence, Massachusetts, era filho de imigrantes judeus russos. Aos dez anos, ganhou seu primeiro piano de uma tia, durante as férias de verão, e começou a montar operetas com amigos para apresentar no bairro.

 

Em 1935, ingressou na Universidade de Harvard, obtendo o diploma em música.

 

Em 1944, Bernstein realizou sua primeira contribuição para a Broadway: compôs uma trilha para a peça On The Town [baseada no argumento do balé Fancy Free, de Jerome Robbins, com música de Bernstein também]. Mas seu trabalho foi particularmente profícuo na década de 1950, quando criou três musicais: Wonderful Town (1953), Candide (1956) e West Side Story (1957). Segundo o musicólogo Paul Laird, Bernstein evitava compor música inacessível: “Ele costumava falar diretamente com o público por meio de melodias líricas, harmonias mais ou menos tonais e textos emotivos”.1 O programa de hoje traz uma amostra desse repertório simultaneamente eclético e generoso.

 

Começamos com uma breve fanfarra, seguida da abertura de Candide, musical que teve a colaboração de Lillian Hellman, na dramaturgia, e do poeta Richard Wilbur, como principal letrista. Após o início dos ensaios, em carta endereçada a seu amigo e mestre Aaron Copland, Bernstein comentava: “Amigo, eu preciso de você por perto para uma crítica sólida. [...] Candide se arrasta: é a coisa mais difícil que já tentei, e — você não vai acreditar nisso — é muito difícil tentar ser eclético”. 2 Desafiando muitas convenções da Broadway e concebido por Hellman como uma sátira ao conformismo da era McCarthy, Candide [que a Osesp apresentou na íntegra em 2014] é considerado por muitos não apenas o musical mais brilhante de Bernstein, mas também uma de suas maiores realizações como compositor, em todos os gêneros. Trata-se de uma obra excepcionalmente complexa, que foi revisada continuamente por Bernstein quase até o fim de sua vida. 

 

Em 1988, a Filarmônica de Nova York celebrou os setenta anos do compositor. A orquestra, sob regência de Seiji Ozawa, apresentou uma sequência de variações baseadas em “New York, New York” do musical On The Town, escritas por ex-alunos de Bernstein em Tanglewood. O resultado foi apelidado por Osawa de Birthday Bouquet [Buquê de Aniversário], e a lista de autores dá notícia da importância da atuação de Bernstein como professor: Luciano Berio, Leon Kirchner, John Corigliano, John Williams e William Schuman, entre outros.

 

A década de 1970 foi particularmente conturbada para o compositor. Em 1973, Bernstein havia conhecido e se envolvido afetivamente com o músico Tom Cothran. Pouco depois, decidiram morar juntos, para desespero da esposa do maestro, Felicia Bernstein. A filha do casal, Nina, declarou, em 2010: “Minha mãe era uma senhora razoavelmente convencional e esperava ser tratada como tal. O acordo era que ele seria discreto e ela manteria sua dignidade. Mas ele não foi nada discreto”.3 Em 1974, Felicia foi diagnosticada com câncer e o maestro implorou para voltar para casa e cuidar dela. A imprensa da época fez bastante alarde sobre o assunto, o que afetou toda a família. Foi nesse contexto pessoal que as próximas peças do programa foram compostas.

 

Em maio de 1976, estreou 1600 Pennsylvania Avenue. Escrita em comemoração ao Bicentenário dos EUA como república independente, a peça contava a história da Casa Branca por meio dos presidentes, das primeiras damas, de negros e negras escravizados que trabalharam em sua construção e dos funcionários do edifício. O espetáculo ficou somente uma semana em cartaz. Após o fiasco, as músicas restaram esquecidas por cerca de vinte anos. Bernstein e Alan Jay Lerner — o letrista — descartaram gravar as canções usando o elenco, considerando que o investimento não valeria a pena. Em 1997, portanto após a morte do compositor, a peça voltou aos palcos, renomeada como A White House Cantata. Charlie Harmon, antigo editor das músicas de Bernstein, e Sid Ramin, orquestrador da peça original, assumiram o projeto com o desejo de resgatar as músicas e as letras de Bernstein e Lerner e se afastar de uma dramaturgia considerada “volumosa e datada”.

 

Slava! Uma Abertura Política, de 1977, celebra a vinda de Mstislav Rostropovich para a Orquestra Nacional, de Washington. Desde os anos 1970, o russo experimentava restrições políticas após dar abrigo a Aleksander Soljenítsin (escritor e historiador russo, crítico do regime soviético). Em 1974, Rostropovich e sua família decidiram deixar a União Soviética e se instalar nos EUA. Além de ser o apelido de Rostropovich, Slava também significa “glória” em russo. O subtítulo dado por Bernstein é um jogo de palavras: alude ao gênero sinfônico “abertura”, referindo-se também à liberdade política em tempos de Guerra Fria.

 

Durante seus anos à frente da Filarmônica de Nova York, Bernstein realizou centenas de gravações para a CBS Masterworks — selo da Rádio Columbia Phonographic Broadcasting. Em 1977, por ocasião do aniversário de cinquenta anos da emissora, compôs uma peça curta, conhecida desde então como CBS Music.

 

Mais tarde, o mesmo material seria reaproveitado em outra obra — Halil: Solo Noturno 4 —, uma homenagem a Yadin Tanenbaum, jovem flautista israelense que morreu em 1973 na guerra do Yom Kippur. Embora Bernstein não tivesse conhecido o rapaz, escreveu, na ocasião: “Eu conheço seu espírito”.5

 

O concerto se encerra com excertos de West Side Story — uma das mais conhecidas composições de Bernstein. Em carta a Felicia, em agosto de 1957, o compositor comentava sobre o cotidiano de criação: “Esses dias têm voado — não tenho dormido muito; trabalho literalmente todos os segundos (considerando que cumpro quatro funções na peça — composição, letras, orquestração e ensaio do elenco). É a morte, mas estou animado. Talvez nasça algo de extraordinário.”6 A estreia do musical foi em 26 de setembro daquele ano, no Winter Garden Theatre, na Broadway. De início, os críticos se dividiram. Somente após oitocentas apresentações, uma turnê nacional e o retorno à Broadway, em 1959, a recepção positiva da peça começou a se consolidar.

 

Um programa de “aberturas” e “suítes” é uma espécie de convite à descoberta da obra de Bernstein, um criador que procurava abrir caminhos, estabelecer diálogos e cultivar laços. A dimensão da troca parece ter sido o motor principal para sua criação, como transparece num trecho de entrevista: “Eu componho para falar profundamente e intimamente com um vasto número de pessoas, o que de outra forma seria impossível”.7

 

BERNARDO FONSECA MACHADO é doutorando em antropologia pela Universidade de São Paulo e coautor de Diferentes, Não Desiguais: a Questão de Gênero na Escola (Reviravolta, 2016). 

 

 

1 Laird, Paul. Leonard Bernstein: A Guide to Research. Nova York/ Londres: Routledge, 2002 , p.15 .

 

2 Simeone, Nigel (org.). The Leonard Bernstein Letters. New Haven/Londres: Yale University Press. 2013 , pp. 318-319 .

 

3 Ibidem, p. 504 .

 

4 Gravada no CD Remembrance (Osesp/Neschling/Sharon Bezaly), selo BIS, 2009.

 

5 Laird , Paul. Op. cit., p. 68 .

 

6 Simeone, Nigel. Op. cit., p. 366 .

 

7 Laird, Paul. Op. cit., p.15.