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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
07
ago 2016
domingo 16h00 Recitais Osesp
Recitais Osesp: Olga Kopylova e Paulo Álvares


Olga Kopylova piano
Paulo Álvares piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Franz SCHUBERT
Fantasia em Fá Menor, D. 940
Johannes BRAHMS
Variações Sobre um Tema de Haydn, Op.56a
Francis POULENC
Sonata para Dois Pianos
Béla BARTÓK
Sete Peças do Mikrokosmos, Op.BB120
INGRESSOS
  Entre R$ 77,00 e R$ 100,00
  DOMINGO 07/AGO/2016 16h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

Ao trazer obras importantes dos séculos xix e xx, este programa abrange enormes possibilidades do repertório para dois pianos e piano a quatro mãos. Toda a variabilidade de comunicação entre os dois instrumentistas é amplamente explorada, da cooperação mais sutil à oposição mais discrepante e áspera.

 

Schubert escreveu sua Fantasia em Fá Menor em 1828 e dedicou-a a sua pupila Karoline Esterházy. O vocabulário explorado na peça, assim como nas últimas sonatas para piano, representa o ápice da poética do compositor: pungência melódica, complexidade e fluidez estrutural, opulentos contrastes, economia de meios.

 

A primeira parte apresenta um tema melancólico em Fá Menor desenvolvido em evoluções dramáticas para retornar à atmosfera íntima na conclusão. A segunda parte, em Fá Sustenido Menor, apresenta um tema grandioso e ritmicamente dilacerado, com vibrantes trilos entre os dois executantes, dando dimensão orquestral à trama camerística. A terceira parte explode com uma dança fulminante de origem húngara, em que vigor e delicadeza contrastam em turbilhões fascinantes. Retornando à melodia inicial num “Allegro Molto Moderato”, Schubert conclui a peça entre monumentalismo arquitetônico e fragmentações resignadas.

 

Compostas em 1873-4, inicialmente para orquestra e depois para dois pianos, as Variações Sobre um Tema de Haydn, de Brahms, partem de uma melodia bastante original, organizada em duas frases de cinco compassos — assimetria estrutural que perpassa todos seus desenvolvimentos. As nove variações subsequentes exploram esse material de maneira ora lírica e ornamental, ora polimétrica e ritmicamente agitada.

 

A concepção orquestral dá à escrita pianística uma dimensão suculenta e antifonal, às vezes massiva e acórdica, outras, etérea e tranquila. Contrastando diferentes retratos do tema caleidoscopicamente transformado, as variações sucedem-se turbulentas, desfazendo-se num prestíssimo com surdina, em que a ideia original se evapora em granulações virtuosísticas entre os dois pianos. De maneira grandiosa e espetacular, Brahms recupera a melodia do Coral de Santo Antonio no final, após intensa fermentação polifônica, concluindo o ciclo de maneira exuberante e extrovertida.

 

Escrita em 1953, a Sonata Para Dois Pianos é sem dúvida uma das obras mais coesas e representativas do estilo heterogêneo e depurado de Francis Poulenc. Após uma abertura ácida e metálica, em que as cordas dos instrumentos vibram como sinos brutalmente percutidos, o discurso musical modula gradualmente para estruturas tonais-modais mais acessíveis e simples, dosando dissonâncias e consonâncias com grande habilidade teatral.

 

O segundo movimento oscila vigor neoclássico com passagens lentas escuras e quase expressionistas, compondo um quadro formal compacto e eficiente. Após um intermezzo lírico no terceiro movimento, em que a genialidade melódica do compositor brilha em toda sua rica inventividade, Poulenc conclui a peça com um explosivo “Allegro Giocoso” em forma rondó. Nesse movimento final, a cinemática neobarroca se aproxima dos sons de máquinas da música dos anos 1920, reminiscências de Prokofiev e Stravinsky. Jatos de força rítmica e momentos de coágulos dissonantes e angustiosos pontuam o discurso musical, com aspereza e impacto.

 

Ao adaptar para dois pianos Sete Peças do Mikrokosmos, Bartók procurava ampliar o repertório para seus concertos com Ditta Pásztory — uma maneira de garantir sua sobrevivência em território americano. As miniaturas representam todo seu vocabulário, vasto e multidirecional. Explorando o cromatismo de maneira vigorosa e controlada, o compositor utiliza de maneira personalíssima os doze sons de nossa escala convencional.

 

Mas não é só: Bartók aproveita melodias modais harmonizadas com extrema modernidade; traz suas pesquisas rítmicas metamorfoseadas num folclore imaginário; revitaliza técnicas contrapontísticas; explora contrastes e desníveis de texturas harmonicamente heterogêneas. Aqui, o compositor se expressa em toda a plenitude da maturidade.

 

PAULO ÁLVARES

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Bartók foi um dos pioneiros na pesquisa e na coleta sistemática de melodias populares, e por isso é considerado um dos primeiros etnomusicólogos. Esse material teve importância vital na sua linguagem musical e foi a maneira utilizada pelo compositor para se libertar da tradição tonal-romântica.

 

As Danças Romenas nasceram como uma coleção de peças para piano na década de 1910. São obras curtas e leves, mas de grande qualidade musical. A versão original, para piano, é ainda hoje a mais conhecida. Mas o próprio Bartók arranjou as Danças para orquestra e a popularidade da peça também motivou arranjos para diversas outras formações, como violino e piano, ou ainda sopros e cordas.

 

As mais de 150 peças para piano que compõem os seis volumes de Mikrokosmos foram escritas entre 1926 e 1939. Concebido como repertório didático para atender alunos iniciantes e avançados, o ciclo aproveita tanto elementos de tradições folclóricas quanto harmonias e ritmos empregados na música mais avançada de seu tempo.

 

CAMILA FRÉSCA é jornalista, doutora em música pela ECA-USP e autora de Uma Extraordinária Revelação de Arte — Flausino Vale e o Violino Brasileiro (Annablume, 2010).